quarta-feira, 16 de outubro de 2013

MASTURBAÇÃO E CULPA...

Na Antiguidade a masturbação era uma forma aceita de obter prazer. Em outros lugares ela adquiriu significado religioso. Os antigos egípcios acreditavam que a criação do universo havia ocorrido através de um ato de masturbação do deus Atum, que teve por parceira divina a própria mão. Mas a nossa história tomou outro rumo. Qualquer prática que não levasse à procriação foi, durante muito tempo, objeto de severas punições. A condenação à masturbação perdurou por séculos, chegando ao ponto de, na Inquisição, o acusado ser considerado herege, podendo ser sentenciado à morte na fogueira. No século 18 a masturbação ascendeu à categoria de doença extremamente grave. A partir daí foi desenvolvida uma absurda literatura médica, com uma extravagância nunca igualada. 

Esta loucura antimasturbatória continuou no século 19. Diversos textos aterrorizavam s pessoas quanto ao malefício da masturbação. Loucura, ataques epiléticos, cegueira, câimbras dolorosas, pêlos nas mãos, era o mínimo que aconteceria. Diziam até que se o vício não fosse contido, o fim do mundo estaria próximo. Com o objetivo de impedir a atividade masturbatória, várias invenções proliferaram. A mais conhecida era a atadura antimasturbação do Dr. Lafond. 

Os órgãos genitais eram escondidos embaixo de envelopes que permitiam a excreção da urina. Por baixo disso um cofre da forma e do tamanho do pênis o vestia de ouro ou prata, garantindo que estava ao abrigo de qualquer tentação. Um médico inglês criou um cinto de castidade solidamente fechado com ferrolho para o dia e um anel peniano de metal com quatro pregos voltados para dentro para a noite. O homem seria despertado à menor ereção. Havia também um detector de ereção ligado a um fio que ficava ao lado do quarto dos pais do jovem. 

À mais leve ereção, uma espécie de sino tocava, alertando os pais para a ereção do filho. Quanto às meninas, a extirpação do clitóris foi preconizada na Europa, demonstrando a atitude extrema de repressão sexual do período vitoriano. As maiores sumidades médicas a praticavam sem hesitação. Alguns especialistas se vangloriavam de ter “curado” várias meninas, queimando seu clitóris com ferro quente. Não é à toa que é grande o número de pessoas culpadas e amedrontadas com seus próprios desejos e com a forma de realizá-los. Não são poucos os jovens que, aflitos, perguntam se a masturbação faz mal, causa peito duro, impotência ou ejaculação precoce. Contudo, isso não impede que praticamente todos se masturbem. 

A questão é que a culpa impede que se desfrute o máximo, evitando que a masturbação se torne a experiência libertadora e satisfatória que pode ser. Hoje, sabemos que a masturbação na infância é importante, já que equivale à auto-exploração do corpo. Na adolescência ela é vista pelos especialistas como uma prática fundamental para a satisfação sexual na vida adulta, por permitir um autoconhecimento do corpo, do prazer e das emoções. 



 Regina Navarro

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