quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Amor Imaterial vs. Amor Material: Platão vs. Lucrécio


O amor imaterial, direcionado para o belo e para o ideal, mantendo as distâncias, é bem conhecido, especialmente nas interpretações medievais dos escritos de Platão. Essas noções reforçadas pelas teologias e pelo sistema valorativo religioso medieval – que abominava a existência material e mundana - influenciaram as sociedades ocidentais desde então. Mas da antiguidade grega herdamos muitas outras filosofias e modos conceptuais de lidar com o amor, por exemplo os epicuristas encontram-se entre alguns dos mais importantes. 
Em “Os Filósofos e o Amor” as autoras optam por citar principalmente dois pensadores/escritores da antiguidade greco-latina para personificar dois modos antagónicos de pensar e viver o amor. Aude Lancelin e Marie Lemonnier, nessa singular obra, colocam em oposição Platão e Lucrécio, ainda que ambos procurassem minimizar os impactos negativos do amor, pois sabiam que é tanto essencial como inevitável para nós humanos viver existências onde o amor marca sempre presença, seja em que modo for.
Platão - como já referi - defende um distanciamento físico, no sentido de amar e aspirar ao ideal e não tanto ao plástico e físico, podendo o sentimento nunca ser corporizado. De um modo simplista – mesmo muito simplista - manter certas distâncias, uma vez que amar era inevitável e que poderia amar ideias, seria para o filósofo muito mais seguro e evitavam-se assim as emoções indiretas e reações negativas (algumas delas violentas) que podem contribuir para a infelicidade. Parece que Platão desistia perante o amor físico, não porque não fosse bom ou um prazer, mas porque amar corporeamente podia trazer mais malefícios que benefícios. Já o poeta Lucrécio segue, notando os mesmos perigos que Platão, pelo caminho exatamente oposto. De modo a evitar a dependência de uma só pessoa e outras fontes de potencial infelicidade, que poderia levar à autodestruição do individuo que ama, o poeta romano opta pelo recurso ao excesso carnal, pelo amor físico sem quaisquer limites, num claro comportamento materialista.
Apesar da simplicidade com que tentei apresentar estes dois autores e suas teorias/posturas, podemos facilmente constatar que o amor desde há muito é visto como uma dicotomia: bem/mal. A condição humana, e os problemas de há 2000 anos, continuam a invadir as nossas mentes contemporâneas. Ainda hoje há quem siga, mesmo que inconscientemente, estes dois extremos, independentemente dos vários conceitos de amor: ora distanciando-se dele ora consumindo-o em sofreguidão descartável. De qualquer dos modos, ambos as abordagens denotam algo que se poderia considerar sendo medo, receio esse que cada uma e cada um de nós tenta resolver do modo que melhor pode, optando outros pelo meio-termo. Parece-me estas questões continuarão sempre atuais ou não fossemos animais sociais condicionados, para o bem e para o mal, pelas emoções.

Referências Bibliográficas
  • Lancelin, Aude & Memonnier, Marie. "Os Filósofos e o Amor". Tinta da China, 2010.

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