quarta-feira, 21 de agosto de 2019

DEPOIMENTO: MINHA PRIMEIRA SESSÃO DE TERAPIA TÂNTRICA


"Primeiro trabalhamos minha respiração, para depois ela usar o toque e abrir pontos de pressão no meu corpo. Entendi que a respiração adequada era essencial, e de certa forma fiquei feliz por já ter um pouco de prática com meditação e boxe, duas atividades que dependem de uma boa respiração.

Fomos para Um espaço menos iluminado, onde começa o tratak, ou “olhos nos olhos”, a fase inicial de uma terapia tântrica. Me despi e sentei de frente , olhando fixamente seu olho direito. A orientação foi não piscar, mesmo que sentisse os olhos irritados ou lacrimejando. Em poucos segundos estávamos ambos soltando lágrimas. Ela me explicou que nesse momento ocorre algo chamado transfiguração, em que a minha visão iria começar a perder o controle da realidade, imaginar formas geométricas e transformar a imagem da pessoa sentada na minha frente, que poderia aparentar ser mais jovem, mais velha, ou mesmo um monstro. Mantive a duras penas o contato visual, lacrimejei muito e parei de tentar controlar a experiência, só senti o que estava acontecendo.

Quando você está sentado, nu, na frente de outra pessoa segurando suas mãos, existe muito pouco ou quase nada a temer.

O terapeuta tântrica pediu para eu fechar os olhos e me deitar, o que prontamente atendi. Seguindo a recomendação, passei a respirar só pela boca e imediatamente comecei a sentir um formigamento no rosto, principalmente nos lábios e nas bochechas. Com toques suaves na barriga e nos braços, ele começou a segunda fase da terapia, uma massagem sensitiva para soltar minha sensibilidade ao tato, de início comigo de barriga pra cima, e depois me colocando de um lado, de outro e de bruços. Senti calor, ternura e carinho. Senti um pouco de vergonha também. Me perguntei o que ele estava pensando, o que escreveria nesse relato que você está lendo agora, como isso seria nas próximas sessões quando eu já estiver acostumado com essa dinâmica, como estava sendo na hora.
Os toques eram extremamente leves, e realmente parecia muitas vezes que eu não estava sendo tocado. Em outros momentos, as pontas dos dedos dele se combinavam a leves sopros, que causavam reações inesperadas no meu corpo. Não era sexual, mas era sensorial, bastante sensorial.
Pensava isso às vezes, rapidamente, porque a maioria do meu tempo foi concentrada na minha respiração. No começo era cansativo respirar só pela boca. A garganta secava, o ombro coçava, mil movimentos pediam minha atenção e imploravam pela chance de serem executados. Ignorei todos eles e me entreguei ao relaxamento completo do corpo, causado por aquele toque que quase não era um toque.

Próximo do final, ele vendou meus olhos que já estavam fechados, e me deixou sozinho comigo mesmo. Pela primeira vez em muito tempo, pude sentir meu corpo, ouvir minha mente, sem ter nenhum estímulo externo. Nenhum e-mail pra responder, nenhuma notificação numa tela, nenhum incêndio da empresa para apagar. Ao mesmo tempo que senti essa libertação, também senti um frio gélido tomando conta das minhas pernas, mãos, peito e pescoço.

Senti solidão, frio, silêncio, mas também leveza, desapego, liberdade…
Aos poucos, fui parando de me incomodar com aquelas sensações.
Num dos poucos momentos durante toda a sessão tântrica que me lembro de ter articulado uma frase em minha cabeça, pensei “Relaxe, você precisa aceitar isso para seguir em frente…”

Me disse para voltar, aos poucos, à consciência física. Estalar alguns dedos, esticar os braços, abrir lentamente os olhos. Me perguntou o que eu senti e, ainda torpe pela experiência, expliquei por cima o que você leu até agora. Ele sorriu, disse cada pessoa vive algo diferente, e que já ouviu pacientes falando em sensação de morte antes.
Não sei exatamente o que me aguarda nas próximas sessões, e sinceramente confio no imprevisível e no meu terapeuta. Mas posso já compartilhar com você que, não importa o quanto você tenha se identificado com os parágrafos acima, nenhuma descrição em palavras faz justiça ao que é uma sessão de terapia tântrica. Talvez seja porque ela ativa sensações e emoções mais velhas e mais inerente ao ser humano do que a própria linguagem. Talvez seja porque ela acesse a memória celular, indo mais profundo do que nossas mentes conseguem com mera observação e filosofia.
A verdade é que só experimentando isso na prática você consegue ter uma ideia do que é a terapia tântrica, do que vai viver e de como isso funciona. E que mal posso esperar pela próxima sessão."

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